sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A chegada de um pacotinho ou A tia babona


Peço licença aos meus queridos leitores para, desta vez, publicar o diário pessoal desta Afrodite que vos escreve. Aqui uma deusa experimentando Deméter, porque tia é um pouco mãe e no meu caso, uma mãe ao mesmo tempo palhaça, cantora, contadora de histórias, muito, mas muito babona.
Foi uma semana ingrata a útima para a chegada das minhas tão sonhadas férias. Viajar para Salvador, me livrar dos meus chefes, me afastar das rotinas domésticas e me retirar da minha pele para planejar um novo ciclo. É, porque férias para mim é como aniversário, Ano Novo, tão aguardado e essencial, quanto banho gelado no verão de 40 graus, e uma renovação mesmo. Mas a viagem a Salvador também tinha um outro propósito: conhecer a mais nova e pequena integrante da familia - claro que uma menina, só para não fugir à saga da familia Sampaio-Schitine - para continuar a linhagem e dar um colorido todo especial às nossas vidas. Depois de tanto tempo, minhas preces foram atendidas e aquele dia 12 de agosto chegou, finalmente. Não estava me aguentado, aliás acho que ninguém, nem meus amigos, nem colegas de trabalho podiam ouvir meus planos de férias: paparicar minha nova sobrinha. Era o início do nascimento da tia-maluca-babona-gaiata, que ainda por cima, será madrinha.
Mas antes vou contar desde o dia 29 de julho até aquele dia tão feliz. Maria Alice nasceu grande, gorda e comprida, minha irmã, coitada, tinha um árduo trabalho pela frente: alimentar uma fome de leoa com a voluntariedade de uma legítima leonina. O resultado: o leite não foi suficiente e tiveram que enfiar goela abaixo a bruxa mamadeira na "bichinha". Avó e mãe de primeira-viagem estavam em pânico e eu cá comigo pensava, todo mundo quer engordar a pobre, mas como seria bom - todas nós sabemos disso - se ela fosse magra e nunca precisasse fazer dieta! Eu dizia por telefone para uma avó descabelada, "deixe de bobagem, ela vai ser a nova Gisele Bündchenn e ninguém vai se importar com os quilinhos a menos quando ela estiver nas passarelas". Mas ninguém me ouviu, parece que criança saudável tem que ser mesmo gordinha. Depois, dá-lhe spinning e esteira na vida de mais uma de nós.
Cheguei na terra da malemolência naquele dia 12 mesmo, não podia esperar mais. E quando pus os olhos naquela coisinha pequenininha, frágil e vermelhinha eu soube que nunca mais a minha vida seria a mesma. Não que minha vida seja ruim, muito pelo contrário, é agitada, bem vivida e bem sonhada. Mil pessoas à minha volta e um milhão para serem conquistadas, mas aquele serzinho, já tinha um espaço garantido no meu coração e na minha alma. Os dias foram passando e eu, que sempre fantasiei a respeito das recém-nascidas mães - como seria a rotina, como deveria ser acordar a noite toda, dormir pouco, não fazer nada além de cuidar daquele pequeno parasita - tive a certeza de que nada disso é ruim, por incrível que pareça. Tá bom, pode ser cansativo, sim e é. Sim, pode ser penoso para quem não tem ajuda de outras pessoas. Mas para mim, ali ao lado de minha irmã e da minha mãe, cada uma revezando a hora de trocar a fralda e dar mamadeira, fazer dormir, era gostosinho e tive a sensação de que nasci para isso... É uma coisa muito interessante, acho que é o instinto mesmo, a preservação da espécie, mas sei que é isso que sinto. Os dias vão passando, a menina engordando e ganhando novas bochechas (eu ainda tenho esperança de que ela vá ser magra como a mãe) e um corpinho tão lindo, fofo mesmo de tanto leite. No banho, chora como se estivesse num matadouro. Na hora de ir ao "banheiro", a pobre fica tão vermelha que parece que vai explodir. Choro forte mesmo só quando está com fome, e que fome tem, meu Deus!!! Aos poucos vai ganhando apelidos carinhosos... Pucu (abreviação de Picurrucha) é o apelido esquisito da mãe. Eu prefiro o "pacotinho", porque é isso mesmo que ela vira quando enrolo numa toalha grande depois do banho. Nessa hora, eu me lembro de quando era pequena, ADORAVA ver os adultos trocando as roupinhas dos nenéns e eu repetia o ato com as minhas bonecas. Hoje escolho as roupinhas para uma boneca viva, e bem viva... No pé não se pode mexer (tem cócegas e eu aprendi que isso era coisa de adulto) e as mãozinhas se mexem freneticamente como se ainda não tivessem a noção para que servem.
Mas a melhor parte de ser tia é a liberdade que se tem de poder dar amor, quanto quiser para aquele ser... Não tem que educar e nem dar limite. Tô fora disso, por enquanto. E na hora de contar histórias ou músicas de ninar, posso mudar a letra (êêê). Nunca entendi porque todas as letras de músicas infantis são trágicas ou assustadoras: boi, boi, boi, boi da cara preta, pega essa menina que tem medo de careca... Que triste! Mudei. A melodia é boa, então, virou: boi, boi, boi, boi bem bonitinho, pega esse leitinho e protege o meu soninho. Os contos de fadas também são todos inventados. Minha sobrinha gostou muito quando eu contei a ela um de improviso. Era uma vez uma fada chamada Alice, ela tinha o poder de fazer todos mudarem de cor ao tocar a pessoa... Então, ela tocou a mamãe que tinha uma cor meio bege e ficou rosinha, de tão feliz. Ela depois tocou o papai e esse, que era marrom, ficou laranja, tamanha a sua felicidade... E assim, todos iam ganhando cores vivas e alegres até formarem um lindo arco-íris. A música preferida dela na verdade, não tinha outro jeito, é baiana, de Ivete. "Comigo é na base do beijo, comigo é na base do amor".... Isso se balançando no colo e andando pela casa é o hit do momento, os olhinhos - ou no caso aqui - as butucas, brilham de curiosidade e entusiasmo com as novidades da vida.
Percebem como nasce uma tia-maluca-babona e feliz? Bem, essa sou eu. Aconselho a todos serem tios e tias. Ser mãe não é para qualquer uma... Tem que ter peito mesmo. Mas ser tia é tudo de bom. Quem não tiver irmã ou irmão, adotem um sobrinho e vocês vão ver o que é felicidade... E tudo o que é bom tem propaganda né? Então, vai lá: Mantinha para bebê: 65 reais. Sapatinho de crochê: 30 reais. Sua sobrinha dormindo agarrada à sua barriga: não tem preço.

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