domingo, 24 de março de 2013

Conexões do Universo


Em tempos de redes sociais, internet acessível em todo canto, a informação se popularizou e ganhou uma dimensão absurdamente grande. E por informação, eu quero dizer, os dados, as estatísticas, previsões meteorológicas, estudos científicos e por aí vai... Todos nós nos viciamos nessas verdade constituídas pelo pensamento coletivo e, com isso, deixamos de prestar atenção nas informações internas, nas sensações, nas percepções e intuições que tanto nos guiam pela vida a fora.

Tão importante quanto ouvir ao noticiário, e as notícias do conclave do Papa ou a vitória do time do coração, ou ainda da cassação do mandato de um político corrupto (amém, assim seja) é ouvir a nossa voz interna. Aquela que diz assim: "acho que hoje não deveria sair de casa", ou ainda "acho que deveria dar uma chance para esta nova amizade" ou ainda, "essa parceria pode me trazer problemas"... Antigamente, a gente ouvia e muito as nossas avós e mães fazerem previsões, todas baseadas na intuição, e a gente seguia, por respeito aos mais velhos. "Menina, leva um casaquinho porque o tempo vai mudar..." Os mais rebeldes protestavam e se davam mal. Mas, no geral, os conselhos vindos de pessoas sábias eram muito valorizados.

Crescemos e, muitas vezes não contamos mais com essas pessoas especiais perto de nós. E agora, o que fazer? Em quem confiar? Olha, pouquíssimas vezes os meteorologistas acertaram cem por cento a previsão do tempo. E raríssimas vezes, vamos usar a medicina ou a matemática e até mesmos nos preceitos religiosos para saber qual a melhor decisão, qual caminho devemos escolher, com que amigos podemos contar... Para isso, contamos apenas com a nossa consciência. Mas, ela anda muito nublada pelos pensamentos racionais, pelas cobranças e padrões da sociedade.

Perdemos a nossa percepção de indivíduos únicos e vivemos correndo atrás de sonhos e expectativas que nos fazem iguais a todos. Isso gera muito sofrimento, que vem sendo refletido em doenças modernas, como depressão, síndrome do pânico e outros transtornos emocionais tão comuns nos dias de hoje. A busca pela felicidade externamente a nós seria a maior causa dessa desconexão, e a nossa sabedoria interna, o nosso terceiro olho, a nossa sensibilidade estão sendo afetados pela mente que insiste em nos fazer correr atrás de sucesso, estabilidade e o amor idealizado. Tudo isso gera a perda de energia e o distanciamento da nossa verdadeira felicidade. Quem pode saber o que te faz feliz é você mesmo, ninguém pode definir isso por nós...

As religiões vêm se dedicando a tentar alterar esse estado de coisas, mas ela também tende a cair na ditadura da mente, e o faz por via do convencimento e não da vontade genuína e singular de serem felizes. Mas, felicidade é um estado inerente a todos os seres. Alguém já viu um sapo triste? Ou uma flor chorosa? Tudo bem, eles não vieram dotados de sentimentos, mas mesmo assim podemos pegá-los como exemplo, porque todos somos parte da mesma natureza. O motivo pelo qual nos entristecemos com frequência é a falta de conexão com a nossa própria essência, o nosso valor mais vital e saudável, a nossa razão individual de existirmos. E, para deixar esse estado in natura é preciso acalmar a mente, domesticá-la como um cão selvagem. Dizer para ela, todos os dias: "você não me domina". E deixar, lentamente, que o coração ganhe o seu lugar de direito. A mente serve para lidarmos com fatos e decisões práticas, e o coração serve para nos direcionar o caminho. Colocando tudo no lugar devido, não vamos boicotar a felicidade que já existe latente no nosso interior. O resto são só regras que desenvolvemos para tentar viver em sociedade. Não é crucial e podem ser quebradas.

A melhor forma de nos mantermos saudáveis é nos afastando do turbilhão dos pensamentos destrutivos e dar uma chance ao terceiro olho - aquele que abre um canal direto do universo e com o coração. E assim, não vamos errar tanto. Tudo o que o universo nos oferece é bom, basta saber para que serve cada evento, cada pessoa, cada estado de espírito. Alguns, o coração deixa ficar, outros servem apenas para nos despedir e seguir adiante com mais experiência. Meditação e autoconhecimento são a chave... E boa viagem!

Opte por aquilo que faz o seu coração vibrar...
Apesar de todas as consequências.
Osho

sábado, 10 de novembro de 2012

O mundo vai acabar... E o coração?

Adoraria falar sobre o novo filme do 007 e as grandes habilidades do protagonista - interpretado pelo espetacular Daniel Craig - entre elas a de nos fazer suspirar, mas não é sobre isso o tema desta crônica, infelizmente... Vai ficar para a próxima, porque ainda não vi e para falar bem a verdade, não sou muito fã da série. Mas, sou fã de carteirinha de Adele e a música do filme para mim dá um show à parte e me inspirou uma reflexão.
"Na queda do céu, é onde nós começamos
A milhares de quilômetros e pólos de distância
Onde mundos colidem e dias são escuros
Você pode ter o meu telefone
Você pode saber meu nome
Mas você nunca terá o meu coração"
Então... Eu sei que todos evitam este tema. No facebook, amor parece que não tem muitas curtidas, e falar sobre coração é sempre delicado. Todo mundo gosta de falar de futebol, praia, amigos, cerveja, política, religião, o tempo, a curtição, mas o tal do órgão vital, isso só lembram no dia dos namorados, e olhe lá!

Nasci peixes de águas profundas, por isso não consigo ignorar o que acontece nos tempos atuais. Apostaria muito dinheiro em dizer que a maioria dos leitores, principalmente as leitoras, já sofreram por não entender a falta de disponibilidade para as coisas ligadas ao coração. Amor virou brega, romantismo virou sacal, falar de sentimento é fora de moda. Esta semana a música de Roberto Carlos que embala a novela das nove, que fala de um cara apaixonado, foi apedrejada em praça pública e, pasmem, pelas mulheres. Parece que o legal é o sexo, as sensações, a sedução, os instintos. Mas quanto tempo dura o prazer de um orgasmo se compararmos à sensação de um beijo gostoso? Sexo não é só orgasmo, os tantras já diriam, mas a obsessão por atingi-lo se tornou tão comum que nos leva a pensar no que é realmente importante, o que preenche mais as memórias e a saúde emocional... Quando lembramos de alguém que nos foi muito importante lembramos do tesão ou do toque? Da língua ou do texto?  Do tamanho do órgão sexual, ou do abraço? 

Acho que se o coração tivesse voz, ele estar se sentindo traído por nós, seus usuários. Porque, além de o mal tratarmos fisicamente, estamos ignorando suas necessidades. E trocando isso tudo por drogas, remédios, anfetaminas, fantasias, paranóias e por aí vai... Não seria muito mais fácil segui-lo, celebrar os encontros afortunados e deixá-lo comandar nossas escolhas e ações através de suas batidas fortes e acertivas? O coração nunca está errado. Ele pode às vezes exagerar na dose e a razão tem que entrar para fazer uma certa mediação, mas raramente ele erra. E, quando isso acontece, temos completa conivência. Mesmo assim, eu diria sem nenhuma dúvida, que mesmo quando erra, ele acerta porque o que vem do coração é sempre confortável, mesmo que por tempo limitado. 

E, voltando para a letra de Skyfall. O mundo pode acabar, o céu desabar e tem muita gente com medo de entregar o coração. E, como diriam as nossas avós, quem não arrisca não petisca e quem não morre não vê Deus, então triste de quem prefere as sensações passageiras ao caminho afetuoso do coração. Porque, se por acado o céu desabar mesmo, tchau, tchau amor. E, se o coração partir, ele se reconstrói novamente, sem grande esforço. É só deixá-lo bater, quietinho e faceiro, que ele vai de novo ser o que lhe foi destinado:  a fonte de vida em qualquer situação. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Encontros e desencontros - pólos opostos da mesma moeda



Qual a fórmula do encontro perfeito? Isso existe? A expressão "ele/ ela tem tudo a ver comigo" seria necessariamente um prenúncio de que a relação vai ser duradoura? Cada vez mais vemos casais "parecidos" se relacionando e, muitas vezes, casando e construindo família. Mas, este "parecido" na verdade, seria superficial. Numa sociedade em que se valoriza mais as aparências, pombinhos que têm a mesma profissão, frequentam os mesmos lugares, assistem aos mesmos tipos de filmes e cultivam amigos em comum, são os candidatos ao pódio da longevidade, mas eu tenho uma outra teoria. Acho que essas afinidades podem contribuir e muito para o bom entendimento e fluir da relação, mas o amor é outra coisa... Vamos fazer uma viagem no tempo.

No tempos dos meus avós, o relacionamento era feito de paixão e posse. Nos bom e mau sentido das palavras. A paixão levava ao gostar cegamente na pessoa e a posse era o sentido da busca por estabilidade material e emocional. Paixões e posses podiam levar a atitudes extremas, de ciúmes, de loucuras e emoções descontroladas. Meus avós maternos seriam um bom exemplo. Ela, viúva aos dezenove anos, ele um jovem de trinta, divorciado e pai de dois filhos. Os dois se apaixonaram loucamente quando se viram pela primeira vez. Primeiramente, ela lutou contra o sentimento que lhe arrebatava, mas depois, lutou pelo amor, brigou com a família deixou de trabalhar para se casar com meu avô. Ele bancou toda a situação, deu um lar a ela, estabilidade, filhos, mas os dois eram muito diferentes e brigavam constantemente. Meu avô era um boêmio familiar - gostava de beber, dançar, receber os amigos, mas era fiel, romântico, poeta, amava loucamente a minha doce e geniosa avó. Entre trancos e barrancos, ficaram juntos cinquenta anos, até a morte do meu avô. E ela, até o fim da vida, sonhava com o velho, tinha ciúmes dele, saudades, guardava as boas recordações. Ela sofreu sim, abriu mão de coisas importantes e, certamente teve que engolir o orgulho algumas vezes, mas foi feliz, mesmo aturando as bebedeiras do meu queridíssimo avô.

Hoje, vejo mulheres desesperadas por um relacionamento que dure e seja estável, e vejo homens desiludidos e traumatizados com uma ou duas relações frustradas. A conclusão que chego é que nós mulheres precisamos aceitar os defeitos, as diferenças e engolir alguns (vários) sapo, para construirmos a cumplicidade tão desejada - aquela que minha avó sabiamente soube construir e preservar. E quanto aos homens, penso que devem se ser mais generosos também e se sentir menos infalíveis, para que se perdoem pelas falhas, e perdoem suas parceiras, porque elas erram, mas também acertam e podem fazê-los muito felizes. E, para chegar ao título desta crônica, acredito que aquilo que buscamos no outro (o encontro) pode ser também o motivo do afastamento (desencontro) - ou seja, a diferença e não necessariamente a semelhança é que leva ao crescimento, ao perdão, à compaixão. Mas, para isso, é preciso antes nos amarmos na essência, porque enquanto ficarmos ligados ao ego, às aparências, nenhum ser humano vai servir, e todos vão nos magoar, porque todos temos defeitos e imperfeições. E eu pergunto: se a perfeição só existe na mente, vale à pena passar uma vida inteira sozinho?

Então, moçada, pra que perder tempo? Vamos à luta com peito aberto. Abram seus corações e deixem cair as máscaras. Se um sapo aparecer, transforme-o num príncipe. O espelho é seu!!!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quanto tempo dura uma fossa?


A bela música da diva inglesa chama-se Don't you remember?, na tradução livre Você não se lembra? e , na sequência, "a razão pela qual você me amou?". Toda a letra, como já prenuncia o título, faz um apelo angustiado por respostas para um término de relacionamento. E ainda emite uma esperançazinha melancólica de que o fim ainda não chegou, ou que o casal ainda vai se amar novamente. E aí, caro leitor, eu te pergunto, quanto tempo dura uma fossa, um luto, uma dor de cotovelo? Todo mundo já esteve nesse lugar, eu posso garantir, mas esse tempo não é o mesmo para todos, eu também sei.

A cantora inglesa está nos topos das paradas mundiais com um álbum inteiro de canções que percorrem e remexem e discutem e relembram e futricam todas as nuances desse rompimento, que parece ter sido importante e doloroso. Acho, particularmente, Adele muito corajosa e sincera, porque é difícil admitir, mas tem umas fossas que custam viu... E talvez, quando criamos algo valioso e criativo no lugar de lágrimas, lamentações e rancores, isso nos ajude a exorcizar de vez os fantasmas do(a) ex, a ponto de mudar a vida completamente. (bem, se o disco foi em vingança, o cara deve estar se roendo porque é um sucesso.) Na verdade, nossa porção paparazzi não consegue descobrir até o fim do álbum, que é muito bom por sinal, se o trauma da separação foi superado, mas fica claro que ela é quem foi deixada e isso é uma das coisas mais difíceis num término. Quando somos nós os responsáveis pelo rompimento, levamos tudo com mais leveza, podemos ficar pesarosos e até doloridos por um tempo, mas quando somos os rejeitados, o buraco é bem mais embaixo.

O tempo de recuperação varia de caso a caso. Mas, se houve entrega de verdade, vai pintar sofrimento até que o desapego esteja resolvido e a vida trate de colocar novas flores no caminho. E como aliviar a dor? Existem vários medicamentos: fazer milhares de amigos no facebook, conquistar várias pessoas por mês, transar duas vezes por semana, malhar uma vez por dia, comprar muitas roupas ou trocar o corte de cabelo (no caso das mulheres) e por aí vai... E também tem os que seguem uma outra linha: terapia duas vezes por semana, ioga todos os dias, cinemas acompanhados dos melhores e mais confiáveis amigos, dançar muito, falar ao telefone insistentemente sobre o ex-carcará, etc e tal. Mas, no fundo, o tempo de pausa é necessário, porque fingir que não está sofrendo não vai fazer com que o machucado desapareça.

Enfim, como tudo na vida passa, o jeito mais equilibrado de se curar de uma desilusão amorosa é refletir, tentar encontrar as respostas dentro de si, tipo, porque atraiu aquela pessoa, o que em si precisa ser mudado pra que uma relação mais saudável apareça no horizonte, qual a verdadeira causa interna do desencontro, é tudo culpa do outro ou eu também tenho responsabilidade? No livro do psicanalista Augusto Cury, Mulheres Inteligentes, Relações Saudáveis, ele explica que nossa mente guarda as memórias em compartimentos ou janelas, e elas podem ser light, killer ou power killer. O ideal é que após o término, com o tempo, todas as lembranças possam estar na porção light para que o próximo amor seja igualmente leve. Remoer é bom, mas só se no fim, o resultado for uma massa fina e doce, que vai nos ajudar a escolher e saborear melhor o próximo prato. Afinal, sofrimento tem limite.

domingo, 18 de setembro de 2011

Doar o coração


Vivemos em tempos de mentes aceleradas por descobertas tecnológicas, corpos moldados a ferro e sacrifícios, e pouco contato com o centro da nossa alma, o coração. O resultado disso é uma confusão gigantesca porque a nossa essência não pode ser ignorada, e quando isso acontece, a mente inventa subterfúgios, milhares deles, e o corpo trama fugas diversas: paixões arrebatadoras, aventuras pelas drogas, diversões inebriantes, livos para pensar e confundir ainda mais... A lista é enorme e a equação exata. Mente manipuladora X coração ignorado = vazio na alma. Esse vazio se manifesta em síndromes dos tempos atuais: depressão, pânico, isolamento, paranoia, TOC, alcoolismo e outras doenças cada vez mais comuns.

Na busca por ouvir o coração, procuramos desesperadamente um alvo e quando esse alvo é encontrado - normalmente um homem ou mulher - esse pobre ser, que também é um universo cheio de buscas pessoais, pode não ser suficiente para satisfazer as necessidades do coração. Vejo casais se distanciando, cobrando um do outro o frescor do início da relação. E também solteiros ainda iludidos procurando a paixão perfeita dos filmes e contos de fadas. 

E foram felizes para sempre... Como isso é uma mentira terrível, contada principalmente na infância, adultos precisam se distanciar dela e cair na real, literalmente. Onde vamos encontrar perfeição quando todas as pessoas estão iludidas? Por que vamos doar todo o nosso potencial de bondade, compaixão, amizade, compreensão e carinho para uma pessoa apenas? Opa, antes que pensem que estou defendendo a poligamia, deixe eu me explicar. A única forma de satisfazer o coração é doar amor incondicional para a Humanidade, seja num trabalho voluntário, seja na defesa de uma causa, seja na doação de seus talentos para aprendizes, seja no seu prédio, na escola, no trabalho, na comunidade. Trabalhar para tirar um sorriso, um muito obrigada, a paz mesmo que temporária. Pessoas que se doam são mais plenas porque conseguem atender a ânsia do coração, que é transbordar amor. Acredito que os ditadores se transformaram em pessoas sangrentas e vingativas porque escolheram não seguir o coração. E assim nós também, quando ouvimos o ego, e damos mais valor às aparências que não trazem nada de verdadeiramente bom em retorno.

Já ouvi muitas pessoas relatarem o quanto ganharam em troca pelo trabalho voluntário feito de coração. E elas recebem muito mais que dinheiro, recebem o que precisam e tudo de coração, porque os corações humanos se comunicam sem palavras. A arte também tem esse poder, de falar a língua do coração. Por isso, choramos em filmes e ficamos emocionados apreciando um belo poema ou uma tela. Então, fica a dica: abram os corações, deixem derramar o amor e esse amor retorna exatamente para quem teve a coragem e a sabedoria de doá-lo sem restrições. O resultado é poderosamente, imensamente, realmente bom.                

domingo, 27 de março de 2011

O encontro de Ares e Afrodite

Alessandra ensaiava a coreografia mais difícil de sua vida. A dança era um desafio constante, físico e psicológico. A música clássica, aos poucos, convidava às piruetas do ballet, que eram chamadas ao desafio do contemporâneo, com saltos e giros frenéticos, que davam lugar mais uma vez ao lírico e delicado, numa sequência de giros, braços e pernas em frenesi. O que, naquela noite de sábado, eram interrompidos por gritos bastante incômodos. "Eu mato esse desgraçado", pensava ela aos berros. Controlava-se e,  mais uma vez, invocava os deuses da arte para voltar à rotina. Os acordes do piano agora competiam abertamente com os sons vindos da sala ao lado, que normalmente ficava vazia naquele momento da semana. E para desespero de uma Afrodite compenetrada, os gritos de dor e luta corporal ficavam intensos demais. Alessandra, num impulso, correu para acabar com aquela agonia. Furiosa, percorreu os labirintos de sacos e toalhas, com cheiro de suor e quando viu a cena daquela batalha perturbadora, segurou seu instinto da guerra e ficou apenas observando, quieta. Olhos fixaram hipnotizados, como Narciso na beira do lago. O desenho da musculatura de braços eram as armas daquele homem bruto, belo, alucinante. A respiração teve que ser controlada, para que se transformasse na testemunha da enorme força, nenhum requinte ou disfarce, dele para vencer. Alex lutava bailando, como se tivesse nascido para aquela guerra com ele mesmo e era absolutamente, irresistivelmente sedutor. Alessandra esqueceu da própria luta, queria raptar aquele ser, captar a sua essência, consumir suas nuances e percorrer aqueles caminhos traçados com tensão e fluidez. Os socos se repetiam, mas não eram iguais, cada som gutural mexia com suas entranhas, o cheiro da raiva e do amor pelo desafio enchia a sala de paixão e Alessandra segurou o ímpeto de se colocar no lugar daquele instrumento frio de combate. Mas num instante, o desejo se fez maior. Um passo em falso e Alex caía gemendo de dor. Alessandra saiu de seu esconderijo e pôs pra fora sua força, oferecendo ajuda ao lutador. Ele, fascinado pela doçura do gesto e o corpo escultural da bailarina, esqueceu a dor, levantou-se e, olhando em seus olhos, sem nenhum aviso, a convidou para dançar um tango. A guerra dava o tom da dança de sedução que terminava na cama. Os dois se tornaram amantes regulares, de cumplicidade silenciosa. E uma nova guerra os chamava para dançar novamente e sucessivamente.


MITOLOGIA
Ares, também chamado de Marte, era o deus da guerra, dos combates irracionais, puramente instintivos. Homens e mulheres com esse arquétipo ariano estão sempre prontos para o desafio, os confrontos, as iniciativas. O deus Ares teve um longo caso de amor com Afrodite, a deusa do Amor e da Beleza. Os dois amantes foram descobertos pelo marido de Afrodite, Hefesto, o deus ferreiro, que criou uma armadilha para pegar os dois na cama. Mas, os deuses acharam aquilo muito ridículo e acabaram absolvendo os amantes. Ares e Afrodite tiveram vários filhos, como os meninos Pânico (Phobos) e Medo (Deimos), e também a menina Harmonia. Os gregos sugerem que do Amor e Guerra pode nascer a Paz, até porque com amor dá pra vencer qualquer batalha, não é mesmo?

quarta-feira, 9 de março de 2011

A dor e a delícia de ser... Homem.

Oito de março, Dia Internacional da Mulher. Esse ano, terça-feira de carnaval, passou batido, mas fico me perguntando se ainda temos o que bater nas questões feministas, já que a revolução já tomou o seu rumo e não há mais dúvidas sobre o valor da mulher na sociedade. Alguém ainda questiona a competência delas no poder?  Dilma Rousseff, Hilary Clinton, Martha Rocha - a chefona da polícia civil - e tantas outras cabeças femininas na liderança não nos deixam a menor sombra de desconfiança sobre a capacidade de luta e inteligência da mulher.

Mas, o x da questão agora, me parece, é o papel do homem hoje e que tipo de companheiro essa mulher poderosa deseja... A primeira questão é muito ampla e já se discute muito por aí. Eu, particularmente, acho que não mudou muito, o que alterou foi o peso das responsabilidades - agora dividido entre homens e mulheres nas relações. Homem continua tendo que pagar contas, dar exemplo e limite aos filhos, ser responsável por seus atos e cuidar de sua mulher, no sentido mais emocional e também físico, quando a integridade dela é ameaçada. Também acho que eles têm mesmo que pagar a conta do restaurante e do motel, quando tem condições para isso. Não que seja nada demais elas dividirem, mas o ato de cavalheirismo é genuíno e a generosidade sempre será retribuída, aquecendo a chama da sedução. Acho que isso não vai mudar nunca.

A questão mais importante para as mulheres nos dias de hoje penso que seja no que diz respeito às atitudes masculinas que ainda queremos preservar, mesmo em tempos de igualdades de gêneros. Vejo muitas mulheres assumindo as rédeas da conquista, deixando clara a vontade de seduzir sem limites e adotando uma postura altamente masculina nas questões sexuais. E fico um pouco assustada, porque me parece que isso coloca o feminino em um nível inferior, como se a inversão do papel deixasse a mulher ainda mais poderosa, ao custo da sua verdadeira força natural, que é o ser feminino. Por exemplo: mulheres que usam um linguajar muito masculino, bradando palavrões em rodas de chope e analisando futebol, podem até garantir o homem da noite, mas acho difícil conquistarem o ser humano, porque a natureza deste homem vai sempre buscar o desconhecido, o diferente que fascina. A não ser que este ser esteja tão afastado das referências femininas, ou que acabe aceitando essa postura masculina da mulher como forma de afastamento desta energia, por algum motivo mais profundo, uma raiva contida, uma questão com a mãe. Mas vamos deixar Freud fora desta, o babado é complexo mesmo...

Acredito que, neste momento, os homens estão bastante confusos sobre esta nova mulher. E assustados também, afinal, foram séculos de patriarcado e ele ainda permanece, mesmo com uma tendência a se alterar gradualmente. Mas o que acho válido refletir é: será que não seria melhor e mais produtivo acolher as diferenças ao invés de se igualar, tentar integrar as energias yin e yang? Por exemplo: ao invés de ser muito direta na sedução, as mulheres poderiam usar a inteligência e a sensibilidade para facilitar a aproximação, com olhares, sorrisos e uma boa dose de charme e mistério para que eles tenham a curiosidades de procurá-las num segundo encontro. E os homens poderiam ser mais sinceros ao seduzir, aproveitando a situação mas evitando a desilusão amorosa, aquela sensação de que não querem compromisso, só porque curtiram uma noite e não querem dar continuação, o que não tem nada demais. Homens e mulheres não precisam ser escravos dos instintos, mas penso que poderiam usá-los de maneira mais responsável e sensível, cuidando para não ferir ou diminuir o outro. Afinal, se direitos e deveres são os mesmos, porque não aproveitar isso com verdade e intensidade?

Homens e mulheres nunca serão exatamente iguais, mas no dia em que formos seres totais - masculino e feminino integrado e curado dentro de cada um de nós - as relações certamente ficarão mais proveitosas e essa guerrinha dos sexo chata e cansativa vai finalmente acabar. A tensão dos hormônios, jamais!!! Se não perde a graça...