domingo, 19 de julho de 2009

Ninfas e Lobas



Aos treze anos de idade, Marina despertava a libido dos meninos da escola com sua beleza inocente, inconsciente e inconseqüente. Não foi à toa que os gregos inventaram o mito das ninfas, para ressaltar a beleza do desabrochar de uma mulher. Na escola, as meninas queriam estar perto dela para pegar o rebote. Tudo o que ela dispensava, ou seja, os meninos feios, gordos, sardentos ou simplesmente chatos eram aproveitados pelas meninas menos fisicamente privilegiadas. Marina não namorava, mas ficava e com muitos, desde cedo. E para isso, ela podia escolher, os garotos vinham em fila como que fatalmente atraídos pela abelha rainha, rumo à morte – para meninos, o que significava a rejeição aguda e a frustração de egos em crescimento. Ela comentava com as amigas sobre a vítima da noite anterior:
- O Bruno até que é bonitinho, mas sei lá é meio sem graça, aguado, tem aqueles olhos azuis...é desengonçado e muito grudento....
- Ai ai....
As outras meninas suspiravam. Bruno era o menino mais bonito da escola, jogador de basquete, corpo escultural para um jovem de quinze anos, mas Marina esnobava, até que ele se jogasse a seus pés. Aí, ela dava bola para ele, só para depois, seduzir, sentir o gosto e jogar o menino na rua da amargura. A jovem ninfa, aprendiz de afrodite, nem se dava conta de seu poder de sedução, mas gostava de brincar de arrasar o coração e o ego dos meninos. E cresceu assim, entre desprezos e descobertas. Intimamente, ela não se achava tudo isso que os rapazes viam. O corpo era magro demais, os braços muito finos, as pernas enormes, o cabelo muito liso e o nariz grande demais. Mas todos ao redor discordavam, tanto homens quanto mulheres consideravam a menina uma linda espécie do sexo feminino em desenvolvimento. Ela tirava proveito da situação, mesmo que tivesse uma opinião diferente quando se via no reflexo do espelho. E debochava dos rapazes lindos e admirados, ou para se vingar de possíveis inimigas ou de possíveis inimigos.

...
Aos dezoito anos, Marina decidiu se entregar ao prazer, mas continuava imune à paixão e preferia mil vezes a companhia das amigas para as baladas do que a de um namorado fixo. E à medida em que Marina crescia, os homens faziam fila para terminar uma festa ao lado dela e exibir a beldade para todos.
Maria, mãe de Rafaela, melhor amiga de Marina, adotou a menina em São Paulo, já que a família não quis sair do sul. Marina, por sua vez, ficava bem junto das novas companhias e mesmo com idades diferentes, as três dividiam as mesmas questões e inseguranças. Maria estava recém divorciada, na faixa dos cinqüenta anos e já não podia perder tempo, então decidiu aproveitar a vida sem restrições. Mas ela ainda temia a vida de solteira, tinha amigas que se aventuravam em caminhos ainda pouco desbravados, faziam swing, freqüentavam clube das mulheres, experimentavam sexo homossexual e transavam com homens de todos os modelos. Mas Maria tinha seus pudores e queria ir com calma. Já a filha e a amiga eram bem mais liberais e aconselhavam:
- Eu se tivesse a sua experiência, com esse rosto bonito, esse corpinho de trinta e cinco ....com a sua idade, eu ia me divertir muito...
- Para com isso Marina. Vê se pode.. Maria ruborizava, mas no fundo concordava com a sabedoria da jovem mulher. Tinha tudo para conquistar corações ou simplesmente corpos, mas tinha medo. Medo da decepção, medo de se apaixonar e medo do julgamento das pessoas, da família e até do ex-marido. Para diminuir seus traumas, ela resolveu sair mais com mulheres solteiras da sua idade e ver como elas agiam.

...
Na primeira festa que foi com as amigas, observou o público alvo que ela dividiu em duas classes: os quarentões e os meninos. Estes ela descartava e o que restou, ela resolveu investir. A primeira conquista aconteceu no último minuto do segundo tempo e muito por causa do nível alcóolico de sua corrente sangüínea. Afinal, estava cheia de expectativas e não poderia voltar para casa frustrada. O homem, de seus quarenta e tantos, esbarrou nela e deixou cair toda a cerveja em sua roupa e Maria acabou caindo junto. O cara ficou tão sem jeito que fez de tudo para que ela não batesse nele.
Por favor, me desculpe, foi sem querer...
E Maria acabou puxando conversa:
- Você vem sempre aqui?
- Venho. Mas nunca te vi por aqui. Me perdoe, por favor.
- Deixe isso pra lá, acontece. Pois é, é a minha primeira vez...
Depois do diálogo introdutório, eles ficaram mais descontraídos:
- Eu adoro dançar e gostei muito daqui, das músicas, acho que vou voltar.
- Ë aqui é muito bom. Eu também gosto e devo voltar semana que vem...Quem sabe a gente se encontra?
- Seria bom...E terminou assim a sua primeira noite de divorciada.

...
Marina se confrontava pela primeira vez com o drama da vida, e descobria que não podia ter tudo só porque possuía a beleza, não sabia como lidar com aquilo, mas era preciso fazer algo. Apenas entrou e esperou para fazer uma cena das mais deploráveis. Maria decidiu não se envolver demais e ficou ali mesmo no jardim pensando na sorte daquela deusa mimada e estragada pela própria beleza. E pensou nela mesma. “como eu seria feliz se tivesse esse corpo... essa pele... esse rosto....” Ela olhava Marina e Rafaela de longe e pensava como a vida passava rápido e como ela pode ter se entregado tanto para um homem, seu marido, que não a havia valorizado. Bateu arrependimento, mas não desespero. Era uma mulher de fibra, que se orgulhava por saber como criar bem uma jovem com uma carreira tão difícil quanto promissora. Rafaela não cometeria os seus erros, essa era o seu consolo. Enquanto Maria pensava melancolicamente no destino, ela mal percebeu a presença de um belo jovem que descansava ao seu lado. O homem, interessado em algo mais do que um conselho de mulher mais velha, puxou conversa:
- Que loucura, né? Isso aqui hoje está demais. É celebridade para todos os lados e nós fotógrafos temos que passar por cada uma, somos uns otários mesmo, seguindo eles por todos os lados.... Aquelas meninas mal saíram das fraldas e já têm fama e dinheiro, dá pra entender?


DILEMAS DA VIDA MODERNA


Dinheiro, beleza, fama, notoriedade.... Valores que a sociedade atual preza como se fosse a salvação para todos os problemas. E, muitas vezes, são esses valores que atraem os problemas. Simplesmente, as pessoas aos poucos se distanciam da natureza, da simplicidade e se iludem com as informações das revistas, da televisão e acham que os famosos têm vidas perfeitas. Na verdade, são ilusões... As mulheres deste conto se confrontam com essas questões e chegam ao extremo para perceber que a felicidade é algo bem mais simples e possível.

Que tal pararmos de sonhar com o Brad Pitt ou o Leonardo Di Caprio e olharmos os nossos amigos, colegas de trabalho, vizinhos, gente que luta e sonha, que erra e acerta, que busca o autoconhecimento para tentar ser feliz. E que tal fazermos alguém feliz? Depois me contem o resultado.

Um comentário:

  1. Tema interessante, vida real, com um toque de sex and city.
    Rumo ao sucesso, Parabéns!

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