segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Afrodite em ação: o glamour e as galinhas









Fim de férias. De volta ao batente. Desânimo? Saudade? Retorno da condicional para a prisão? Acho que voltar a trabalhar é tudo isso um pouco. Rever os amigos e colocar as fofocas em dia me faz sempre fritar na cama de ansiedade um dia antes, me lembra os tempos da volta às aulas. E o primeiro dia é sempre feliz. Mas claro que a rotina aos poucos vai quebrando esse momento mágico e a realidade dá um tapa na nossa cara, tipo ACORDA! Ainda me acostumando às velhas obrigações, uma colega cansada de guerra divagava: "Eu nasci pra ser dondoca. Odeio trabalhar... Poderia passar o resto da minha vida num spa tratando da minha pele, acordando as minhas celulazinhas!"

Eu não nasci pra ser dondoca, não... Infelizmente. Gosto mesmo é de uma boa aventura!

Então, vou contar algumas histórias da minha jornada rumo aos holofotes da imprensa! Desde afroditezinha queria ser famosa, de microfone e câmera em ação, desejava viajar mundo à fora cobrindo explosões, guerras, conflitos, economia e muita política internacional. O clone da Ana Paula Padrão. Mas depois desci das nuvens e para a minha surpresa, descobri que a vida real é bem mais emocionante. Curiosa que só e caxias de doer, fui repórter desde a faculdade. Repórter mesmo, atrás dos furos para os meus trabalhos de sala, de personalidades marcantes ou simplesmente "figuras" de se tirar o chapéu (a minha parte favorita), como os hippies evangélicos e a comunidade cigana que eu e meu grupo descobrimos no interior de Minas.



Ainda na faculdade, ganhei prêmio com uma matéria de rádio hilária sobre o mundo da tietagem e essa fase foi muito gostosa! Fui a tudo quanto é show brega para acompanhar as doidas varridas... Nos fans clubes eu descobri como uma mulher pode ser desequilibrada quando está perto do seu ídolo. Coitado!!! Tem fã clube até de jogador de vôlei, acredita? Fomos também investigar tudo sobre o mercado de sexo. Isso na tradicional sociedade mineira. As pessoas me perguntavam, assim como quem não quer nada: "você entrevistou os casais durante o vuco vuco?". É mole?? E eu tentando ser uma jornalista de respeito... Claro que não, mas queríamos falar com os usuários de drive ins, motéis, cabines eróticas, então fizemos um brilhante questionário onde os casais respondiam depois, relaxados e anonimamente... Lembro que foi como repórter que entrei pela primeira vez numa sex shop. Aqueles perus enormes olhando para mim, os brinquedos de formas variadas e eu só podia perguntar para o dono qual a média de vendas da loja por mês...

Nessa profissão tem de tudo. Só não tem rotina. Tem buraco de rua. Atropelamento. Tiroteio. Cachorro que só falta falar... No mercado de trabalho foram muitas emoções ao pegar o microfone! Me lembro de quando entrei num presídio - Bangu 6, se não me engano - em rebelião. Aquele bando de homem mascarado em cima do teto com pequenos instrumentos de trabalho: paus, estoques, cacos de vidro e eu ali - um misto de pânico de virar personagem de filme nacional e uma vontade louca de olhar no olho do bandido, só para tentar entender a psicologia, o porquê de tanta agressividade. Mas o medo dominou a situação e só consegui ouvir que eles queriam mais dignidade paras as visitas íntimas. Ok, achei justo. Pelo sim, pelo não, na hora de gravar a passagem (aquela parte da matéria em que o repórter aparece no vídeo) eu engatei uma quinta e falei tão depressa, mas tão depressa que por milagre acabei não errando nada.


Vivi também uns momentozinhos de glamour... E mico também! Explico. Lançamento da novela global, "Laços de família". Elenco estrelar reunido e eu de vestido longo e gravador em punho. Caneta Bic e bloquinho para anotar o que faltava. Fazer o quê? Estava trabalhando para um caderno de notícias de televisão. A missão: falar do trabalho e amaciar bem os egos dos artistas. Nada de fofoca. Resultado: nunca fui tão bem tratada na minha vida. Entrevistei Vera Fischer gloriosa. Victor Fasano, irradiante, que quase me deu uma cantada. Reinaldo Gianechinni sorria mais que comercial de pasta de dentes no seu primeiro papel em novela e Gabi me chamou de coleguinha. Era a glória e o cúmulo da futilidade ao mesmo tempo!
Na linha glamour também teve o Fashion Rio. Para quem não sabe, cobrir esse evento é uma maratona porque ele é montado para a imprensa especializada e as outras emissoras de tevê ficam correndo pelas beiradas para tentar achar uma brechinha. Fui com a produtora mais antenada e fashion da redação tentar fazer os bastidores. Ela sabe tudo de moda. Foi a minha salvação. Eu no máximo, sei combinar a cor da blusa com a saia e me encher de balangandans. Não saio de casa para acontecer. Mas admiro quem saia e Raphaella arrasa. Graças a ela nós conseguimos entrar no back ("stage" é para os amadores) e fazer "beleza" com as meninas. Isso eu também aprendi lá. Fazer beleza não significa fazer algo bem feito, mas entrevistar as modelos enquanto elas se arrumam. Ah roupa, figurino, é estilo, ok? Calças largas são amplas e aqueles modelos sem corte definido, são desestruturados. Combinado?
Mas nem tudo são flores nessa profissão... Ano passado, nas minhas férias, eu estava crente que ia para Machu Pichu, fazer um retiro espiritual ou simplesmente me bronzear em alguma praia bem longe... Eis que surge uma proposta irrecusável! Fazer um documentário sobre Alimentação Natural. Caramba, sempre quis fazer um documentário e o assunto é show... Mas teria que me embrenhar pelo interior de São Paulo. Ok, conhecer gente diferente, novos ares. Topei. Chegando lá, o verde era gritante e o sol inclemente. Conheci muitas hortas, pomares, desvendei tudo sobre a plantação orgânica e quando me deparei com a granja achei as colegas tão limpinhas que resolvi entrar no galinheiro para fazer uma passagem "criativa". Coitada... O veterinário me explicou que elas eram comportadas, que seus bicos eram cortados e não machucavam. E eu fui, de bota, calça e jaleco falar sobre elas, ali no seu território. Meu Deus, que sufoco! As bichas ficaram empolgadíssimas comigo e pensaram que a minha perna fosse feita de milho, ou sei lá, se identificaram e saíram me bicando... Era tanta bicada que dessa vez, pior do que no presídio em rebelião, eu me rendi e sai batido sem conseguir terminar uma frase! Bem feito, vai mexer com quem está quieto.
Esse ano teve a FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty. Evento chique, cheio de personalidade famosas... Chico Buarque, muitos franceses. Todo mundo achou o máximo e eu também. Mas cá pra nós? Foram 12 horas de ralação durante todos os cinco dias, isso andando de um lado para o outro nas ruas de pé de moleque, e pior, feito gato e rato com a minha outra colega repórter que me acompanhava. E vou contar um episódio hilário. Carmen que me perdoe, mas eu preciso. Ela estava a dez minutos de entrar ao vivo e eu fazia a produção dessa entrevista. No horário e local combinado, cadê a mulher??? Sumiu. Celular não atendia. Redação me ligando. Tudo pronto. Saí a cata de Carmen por Paraty. Do outro lado da cidade, uma repórter enlouquecida invadia o auditório do evento atrás da moça que seria entrevistada. Mas esta, pobre coitada, estava falando ao telefone com uma fulana que se chamava Paula. Advinhem o que Carmen aprontou? Pegou o aparelho da mão da pessoa e aos berros me perguntava onde é que eu tinha me enfiado. A mulher não entendeu nada... Carmen voltou ao local resignada, conseguiu entrar ao vivo e eu não pronunciei uma palavra, de tanta adrenalina. Passado o susto e descarregada a pilha de nervos, demos uma boa e merecida gargalhada e ficamos amigas de infãncia.
Este trabalho é assim... Passamos sufoco mas nos divertimos. E fazemos muitos amigos ao longo do caminho. Por isso, afirmo que sou uma privilegiada. Amo a minha profissão. E sempre estou pronta para outra roubada!