domingo, 27 de março de 2011

O encontro de Ares e Afrodite

Alessandra ensaiava a coreografia mais difícil de sua vida. A dança era um desafio constante, físico e psicológico. A música clássica, aos poucos, convidava às piruetas do ballet, que eram chamadas ao desafio do contemporâneo, com saltos e giros frenéticos, que davam lugar mais uma vez ao lírico e delicado, numa sequência de giros, braços e pernas em frenesi. O que, naquela noite de sábado, eram interrompidos por gritos bastante incômodos. "Eu mato esse desgraçado", pensava ela aos berros. Controlava-se e,  mais uma vez, invocava os deuses da arte para voltar à rotina. Os acordes do piano agora competiam abertamente com os sons vindos da sala ao lado, que normalmente ficava vazia naquele momento da semana. E para desespero de uma Afrodite compenetrada, os gritos de dor e luta corporal ficavam intensos demais. Alessandra, num impulso, correu para acabar com aquela agonia. Furiosa, percorreu os labirintos de sacos e toalhas, com cheiro de suor e quando viu a cena daquela batalha perturbadora, segurou seu instinto da guerra e ficou apenas observando, quieta. Olhos fixaram hipnotizados, como Narciso na beira do lago. O desenho da musculatura de braços eram as armas daquele homem bruto, belo, alucinante. A respiração teve que ser controlada, para que se transformasse na testemunha da enorme força, nenhum requinte ou disfarce, dele para vencer. Alex lutava bailando, como se tivesse nascido para aquela guerra com ele mesmo e era absolutamente, irresistivelmente sedutor. Alessandra esqueceu da própria luta, queria raptar aquele ser, captar a sua essência, consumir suas nuances e percorrer aqueles caminhos traçados com tensão e fluidez. Os socos se repetiam, mas não eram iguais, cada som gutural mexia com suas entranhas, o cheiro da raiva e do amor pelo desafio enchia a sala de paixão e Alessandra segurou o ímpeto de se colocar no lugar daquele instrumento frio de combate. Mas num instante, o desejo se fez maior. Um passo em falso e Alex caía gemendo de dor. Alessandra saiu de seu esconderijo e pôs pra fora sua força, oferecendo ajuda ao lutador. Ele, fascinado pela doçura do gesto e o corpo escultural da bailarina, esqueceu a dor, levantou-se e, olhando em seus olhos, sem nenhum aviso, a convidou para dançar um tango. A guerra dava o tom da dança de sedução que terminava na cama. Os dois se tornaram amantes regulares, de cumplicidade silenciosa. E uma nova guerra os chamava para dançar novamente e sucessivamente.


MITOLOGIA
Ares, também chamado de Marte, era o deus da guerra, dos combates irracionais, puramente instintivos. Homens e mulheres com esse arquétipo ariano estão sempre prontos para o desafio, os confrontos, as iniciativas. O deus Ares teve um longo caso de amor com Afrodite, a deusa do Amor e da Beleza. Os dois amantes foram descobertos pelo marido de Afrodite, Hefesto, o deus ferreiro, que criou uma armadilha para pegar os dois na cama. Mas, os deuses acharam aquilo muito ridículo e acabaram absolvendo os amantes. Ares e Afrodite tiveram vários filhos, como os meninos Pânico (Phobos) e Medo (Deimos), e também a menina Harmonia. Os gregos sugerem que do Amor e Guerra pode nascer a Paz, até porque com amor dá pra vencer qualquer batalha, não é mesmo?

2 comentários:

  1. Oi, Maria Paula,


    lembra de mim? No programa Zoasom, Rádio Mec, do livro Bárbara e a baleia.
    Achei você aqui no google!
    Quando o programa vai ao ar?

    abraço,
    Flávia

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  2. Oi Paula, meu blog está concorrendo ao TOPBLOG 2011 na categoria sustentabilidade.
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    Um grande abraço,
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